sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A falta que a falta faz .

Trecho da peça “Falta” , de Sarah Kane

“E eu quero brincar de esconde-esconde e dar minhas roupas pra você e dizer que eu gosto dos seus sapatos e me sentar naquele degrau enquanto você toma banho e massagear seu pescoço e beijar seus pés e ficar de mãos dadas com você e sair pra jantar. [...] Te contar sobre o programa que eu vi na noite passada e te levar ao oftalmologista e não rir das suas piadas e te querer de manhãzinha mas te deixar dormir mais um pouco e beijar suas costas e escorregar a mão na sua pele e te dizer o quanto eu amo seus cabelos, seus olhos, seus lábios, seu pescoço, seu peito. [...] E me preocupar quando você se atrasa e ficar surpreso quando você chega cedo e te dar girassóis [...] e me desculpar quando estou errado e ficar feliz quando você me perdoa por isso e olhar suas fotos e desejar que eu tivesse te conhecido desde sempre e ouvir sua voz no meu ouvido e sentir sua pele na minha pele e me assustar quando você está brava e seus olhos ficam vermelhos e seu cabelo cai pra um lado e dizer que você é linda e te abraçar quando você está ansiosa e te abraçar quando você sente dor e te querer toda vez que sinto seu cheiro e te invadir quando te toco [...] e ficar com frio quando você rouba meu cobertor e com calor quando você não o rouba e derreter quando você sorri e dissolver quando você dá risada e não entender porque você pensa que eu estou te rejeitando quando eu não estou te rejeitando e pensar como você pode pensar que eu poderia te rejeitar [...] e fazendo poemas e histórias e músicas pra você e pensando porque você não acredita em mim e tendo este sentimento tão profundo que eu não consigo achar palavras para expressá-lo [...] E te segurar na cama quando você precisa ir embora e chorar como um bebê quando você finalmente se levantar e for embora [...] e perguntar se você quer se casar comigo e você dizer não outra vez mas continuar perguntando porque apesar de você pensar que eu estou brincando eu quero mesmo ficar com você pra sempre e sempre quis desde a primeira vez que pedi isso. [...] E te contar o que há de pior em mim e tentar dar o melhor de mim porque você não merece nada menos que isso e responder suas perguntas mesmo quando eu preferia não te responder e te contar a verdade quando eu não queria te contar e tentar ser honesto porque eu sei que você prefere assim [...] E fazer amor com você às três da manhã e de algum jeito, qualquer jeito, qualquer um, conseguir exprimir um pouco desse esmagador, incoerente, indestrutível, expansivo, incondicional, contínuo, enriquecedor, nobre, absoluto, infindável amor que eu sinto por você.”

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